Acredite nos que buscam a verdade... Duvide dos que encontraram! (A.Gide)

26 setembro 2015

BISSEXUALIDADE, A ORIENTAÇÃO SEXUAL MAIS COMUM E INCOMPREENDIDA (e o que os ditos ex-gays têm a ver com isso)

.
Versão revista e ampliada em set.2015 do texto publicado originalmente em 09.08.2013 no jornal ES Hoje
com o título "Os tais ex-gays e o caso bi".
.
Faz pouco tempo que começou a se falar no Brasil do dia 23 de setembro como "Dia da Bissexualidade", "Dia da Visibilidade Bissexual" ou ainda "Dia da Visibilidade da Bissexualidade". A data foi proposta nos EUA em 1999 e já é celebrada, mesmo se ainda discretamente, em diversos países de todos os continentes.

Mais uma besteira inútil de origem "americana"? Eu não diria isso: a bissexualidade é a menos compreendida das formas de orientação do desejo sexual. Muitos (até mesmo gays) pensam que se trate de uma minoria desprezível seja no sentido numérico, seja no sentido moral: afinal, os adeptos da normatização da vida alheia costumam defender não só a heterossexualidade exclusiva como também a monogamia estrita - sexo com uma só pessoa ao longo da vida - e dizer-se bissexual implica automaticamente em considerar legítimo fazer sexo com pelo menos duas pessoas..

Homens que cumprem na prática a monogamia estrita são tão numerosos mundo afora que talvez lotem um ou dois ônibus... mas os ditos conservadores não se acanham em rosnar regras que eles mesmos não costumam cumprir. São barulhentos, em sua obsessão de dominar a vida alheia. E, entre outras coisas, deram de apresentar como "ex-gays" uma meia dúzia de ex-garotos de programa e ex-travestis como se fossem "a prova" de que "o caminho certo" para todas as dezenas de milhões de brasileiros LGBT fosse aceitar a religião deles para virarem normais.
 
Realmente ridículo - mas a resposta dos ativistas LGBT geralmente não vai além de gritar que orientação sexual não muda e que os ditos ex só estão mentindo a si mesmos. Essa reação não é sem razão, mas ao bater de frente deixa de fora algumas sutilezas, e aí terminamos travados nesse -É! -Não é! e não vamos adiante. Que tal tentar enfrentar a questão com um pouco mais de ginga?
 
Vejam: tem muito homem que nunca sonhou fazer sexo com outro, viveu um casamento convencional por anos ou décadas, até que um dia, por brincadeira ou bebedeira, consentiu em uma aproximação - e aí não quer mais ficar sem o sexo entre iguais. Alguns desses conservam o interesse em mulheres, outros perdem completamente. E aí: houve mudança de orientação sexual, não houve? Acreditem: não!
 
Com base em centenas de milhares de entrevistas sigilosas, Alfred Kinsey apontou 7 variações do desejo, conforme seus objetos: 0: Só diferentes, nenhum igual. 1: Um igual vez ou outra. 2: Iguais com considerável frequência, mas os diferentes ganham. 3: Diferentes e iguais na mesma medida. 4: Diferentes com considerável frequência, mas os iguais ganham. 5: Diferentes só vez ou outra. 6: Exclusivamente iguais. 
 
Como se vê, 5 dos 7 tipos são capazes de prazer com os dois sexos, só 2 não são. A população de gays/lés 100% é relativamente pequena, mas a de 100% héteros também. Em períodos longos sem contato com o sexo oposto, a maior parte se descobre capaz de desejo por iguais. Dos que não chegam a praticar, a maioria se contém com esforço e por medo incutido, bem poucos por nem chegarem a desejar.
 
Nenhum hétero exclusivo optou por ser assim: simplesmente é. O mesmo vale para gays/lés exclusivxs. Já o bissexual, tampouco optou por desejar os dois, mas tem sim três opções para realizar seu desejo: só com iguais, só com diferentes, ou com os dois. Sua história de vida pode ter levado a começar por um dos lados, e esse ter sido satisfatório o bastante para ele nem desconfiar que o outro lado lhe poderia ser igualmente bom, ou ainda melhor - mas potencialmente as opções estão lá o tempo todo.

Supostos ex-gays, se estão felizes, são na verdade bissexuais explorando outra de suas possibilidades. Ex-héteros podem ser a mesma coisa, ou são gays quase-exclusivos que haviam se deixado dominar pela doutrinação social heteronormativa. Alguns destes se libertam da doutrinação social heteronormativa sozinhos ou com ajuda de amigos, outros só com ajuda psicológica.
 
Mas sejamos honestos: também existem héteros quase-exclusivos que a vida levou a viver como homossexuais ou como travestis em situações p.ex. de prostituição forçada por escravização ou penúria. Quando essas condições cessam, tais héteros reencontram sua orientação sem psicólogo nem pastor - ainda mais que no rumo hétero a sociedade inteira ajuda. Mas se ser ex-gay te custa esforço, terapia ou oração, meu bem… então seu caso não é esse - e aí só posso dizer: despacha da tua vida esses parasitas, se solta… e (re)começa a ser feliz sendo o gay ou bissexual que Deus te fez!
.