Acredite nos que buscam a verdade... Duvide dos que encontraram! (A.Gide)

18 maio 2009

Fw: Inscricoes abertas! Relacoes raciais e desafios politicos na Diaspora Africana

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INSCRIÇÕES ABERTAS!


FORMAÇÃO DE LIDERANÇAS NEGRAS:
reflexões e práticas da Diáspora Africana e desafios atuais

A Educafro – Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes realiza em junho e julho
o seminário internacional FORMAÇÃO DE LIDERANÇAS NEGRAS: Reflexões e Práticas da Diáspora Africana.
 
O seminário tem como objetivo oferecer formação acadêmica e estabelecer estreito diálogo com ativistas do movimento social negro no Brasil, dando ênfase à produção intelectual de autoras/es negras e negros comprometidas/os com a luta do povo negro.
 
O conteúdo será ministrado por professoras/es ativistas negras/negros da Universidade do Texas (Austin/USA) e professoras/es e ativistas de instituições/organizações brasileiras.

Inscrição e seleção
As inscrições devem ser feitas na Sede central da Educafro - Rua Riachuelo 342, Centro, São Paulo, ou pelo email: educafro@franciscanos.org.br

Interessados deverão anexar/apresentar carta de intenção respondendo porque e como o curso será importante para seu desenvolvimento intelectual e para a prática ativista.
 
O prazo final para inscrição é dia 26 de maio de 2009, com pagamento da taxa no valor de R$ 30,00. A lista com o nome das/os selecionadas/os será publicada no site da Educafro no dia 30 de maio de 2009. A seleção do curso será realizada pelo Grupo de Mulheres Negras da Educafro.
 
Os critérios principais de seleção são: experiência ativista na luta anti-racista, domínio mínimo do inglês, demonstrar interesse nos debates sobre a questão racial, de gênero, sexualidade e de diversidade.
O curso é também um importante fonte de preparação para aquela/es interessados em ingressar na pós-graduação.

Onde: Sede Nacional da Educafro - Rua Riachuelo 342, Centro, São Paulo
Quando: 6, 20, 27 de junho e 4, 11 de Julho (das 9h às 14h ).
Organizador: Educafro – Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes
Parceria: Centro de Estudos Africanos e Afro-Americanos - Universidade do Texas (EUA)


texto selecionado e compartilhado por
..............................................................
Ralf Rickli • arte em idéias, palavras & educação
http://ralf.r.tropis.org • (11) 8552-4506
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07 maio 2009

NÃO FALEI? (in memoriam AUGUSTO BOAL e REINALDO MAIA)

No sábado passado, mandei a vocês uma mensagem que dizia "Ao lado de Paulo Freire, criador da Pedagogia do Oprimido, [AUGUSTO BOAL] é um dos poucos teóricos brasileiros reconhecidos com unanimidade em todo o mundo". Podem ter pensado que era exagero retórico meu - como pensam tantas vezes...  :-D
 
Então olha o que saiu na imprensa hoje - envolvendo juntos o Paulo Freire (que mencionei na mensagem anterior) e o Brecht (sobre quem mandei mensagem ainda da Alemanha, mencionando a emoção de ter estado diante do teatro dele).
 
Grande abraço,
Ralf

07/05/2009 - 07h19

Imprensa alemã ressalta importância universal de Augusto Boal e o compara a Brecht e Tabori

Dramaturgo brasileiro recentemente falecido é comparado a grandes teatrólogos como o alemão Bertolt Brecht e o húngaro George Tabori

A morte do criador do Teatro do Oprimido, Augusto Boal, no último dia 2 de maio, aos 78 anos, foi destacada na imprensa alemã na forma de um renovado reconhecimento pela obra de um artista que esteve à frente de seu tempo.

Os maiores jornais do país foram pegos de surpresa pelo fato, mas aqueles que se pronunciaram foram categóricos ao enfatizar o caráter democrático e revolucionário das ideias plantadas pelo autor teatral carioca, que passou parte significativa da vida no exterior. Isso contribuiu decididamente para que Boal se tornasse a principal referência do teatro brasileiro no mundo.

Admirado por parcela da esquerda alemã e por uma legião de atores e diretores teatrais provenientes da cena alternativa de Berlim, Munique e outro centros culturais europeus - como Paris, Viena e Londres -, Boal tinha na Alemanha escala certa para suas investidas teatrais nos campos da emancipação política, da educação e até da psicoterapia.

Brilhantismo intelectual e carisma
Oliver Scheiber, do semanário Die Zeit, que circula principalmente no meio acadêmico e intelectual, lembrou a última vez em que Boal esteve em Viena, na Áustria, em abril de 2008.

Na ocasião, o dramaturgo brasileiro ministrou um workshop para 400 juristas vienenses, explanando como o Teatro do Oprimido poderia enriquecer o trabalho da Justiça. "O carismático pedagogo teatral brasileiro teve diante de mais de 400 espectadores uma performance inesquecível no Palácio da Justiça, um lugar pouco usual para o encontro", escreveu.

Fascinado por Boal, Scheiber descreveu-o como artista, político e pedagogo delicado e atento. "A divulgação de seus métodos teatrais e modelos para processos de modificação política da sociedade o colocam à altura de Brecht, Paulo Freire e Tabori", comparou.

O diário Frankfurter Rundschau destacou a importância de Boal na comunidade internacional. "Em março último, a Unesco nominou Boal, que sofria de leucemia, embaixador mundial do teatro. Na teoria e na prática do Teatro do Oprimido, os espectadores se tornam protagonistas. Eles tomam a iniciativa do que acontece no palco e trabalham para sua própria libertação. Seus métodos, praticados por seguidores no mundo inteiro, são aplicados também na pedagogia e no trabalho social".

Fritz Letsch, um dos principais responsáveis pela divulgação das ideias de Augusto Boal na Alemanha, e que escreveu com Simone Odierna o livro Teatro faz política. O Teatro legislativo segundo Augusto Boal - Um Livro Oficina, foi um dos que defenderam e propagaram a candidatura do brasileiro ao Prêmio Nobel da Paz de 2008.

"Pela sua obra, que vem se aprimorando desde o começo de seu exílio em 1971 até os dias de hoje, Boal merece com certeza esse prêmio", escreveu Letsch em seu blog pessoal no ano de 2007. "Boal é um dos mais significativos homens de teatro deste século."

A emissora de rádio Deutschlandradio abordou o êxito dos livros do dramaturgo na Alemanha: "Seu livro Teatro do Oprimido é um sucesso mundial. Foi traduzido em 25 idiomas e só na Alemanha cerca de 50 mil exemplares foram vendidos desde a primeira tiragem."

A obra na Alemanha
Em 1997, durante uma de suas passagens pela Alemanha, Boal não escondia sua satisfação pela boa acolhida de seus métodos teatrais no país de Brecht: "Aqui na Alemanha já existem seis livros publicados por outras pessoas sobre o Teatro do Oprimido, como Teatro do Oprimido na Escola, O Teatro do Oprimido e o Psicodrama e o Teatro do Oprimido e os Professores. Isso mostra que a dimensão é enorme", declarou ao jornal Euro-Brasil Press, sediado em Londres.

Indagado sobre qual importância seu teatro teria num mundo transtornado ideologicamente, Boal soltou mais uma de suas originais observações: "Meu teatro é um processo extremamente democrático, em que as pessoas podem expressar os seus desejos. Aí eu acho uma condição do momento, em que o mercado está provocando nas pessoas o que eu chamo de 'a prótese do desejo'. Ele está tirando aquilo que é o nosso desejo autêntico e fazendo com que a gente suponha que deseja aquilo que eles querem vender".

As comparações com Bertolt Brecht
Era comum Boal se deparar com afirmações de que sua obra guardava parentesco com a do dramaturgo alemão Bertolt Brecht. O brasileiro não negava a influência, mas não o considerava a maior inspiração teatral. Seu coração e seu intelecto pendiam mais para o russo Konstantin Stanislawski e para o inglês William Shakespeare.

Antes de partir para o exílio, no começo dos anos 1970, a última peça que Boal montara no Brasil havia sido A resistível Ascensão de Arturo Ui, de Brecht. Já O Círculo de Giz Caucasiano, também escrita pelo autor alemão, chegou a ter uma pré-estréia nos palcos brasileiros, mas Boal e seu grupo não gostaram do resultado e abriram mão de seguir com ela. "É evidente que Brecht me influenciou, mas no sentido que muitos outros me influenciaram. Eu não sou a decorrência de Brecht", afirmou o dramaturgo brasileiro.

Autor: Felipe Tadeu
Revisão: Alexandre Schossler
 

----- Original Message ----- From: Ralf Rickli / Tropis  Sent: Saturday, May 02, 2009 8:58 PM
Colegas
 
Foi-se Augusto Boal, o criador do conceito Teatro do Oprimido, grande nome do teatro e da cultura brasileira em geral.
 
Concorde-se ou não com tudo dele, sua importância é ENORME. Ao lado de Paulo Freire, criador da Pedagogia do Oprimido, é um dos poucos teóricos brasileiros reconhecidos com unanimidade em todo o mundo. Quem sabe antes de mais nada pela características de serem teóricos práticos, pessoas para quem toda ação continha reflexão, e toda reflexão estava totalmente a serviço da ação - ação de transformar o mundo.
 
Há umas duas semanas foi-se aqui em Sampa outro nome do teatro - um tanto menos conhecido, mas também comprometido com o teatro-como-arma-de-transformação:  Reinaldo Maia, envolvido com a história do Teatro Arena. Desde que ele se foi me sinto com a dívida de registrar publicamente o quanto as oficinas de dramaturgia dele foram de valor para mim, entre outros contatos. Homem de um enorme conhecimento da cultura popular brasileira! Dei umas aulas de inglês no apartamento dele - e mal conseguia me concentrar, tantos eram os objetos de arte e artesanato maravilhosos que enchiam todas as paredes e estantes - sem falar dos livros!
 
Quero me permitir imaginar que o Maia esteja recebendo o Boal alegremente agora, em algum lugar, e tramando-se no maior bate-papo... Que a inspiração deles possa estar conosco – e com eles a nossa gratidão!
 
Zé Ralf - em 02.05.2009

06 maio 2009

Imprensa como manipulação II: o falseamento do discurso do Presidente do Irã pela imprensa

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Talvez muitos de nós não estejamos acompanhando o auê em torno da visita do presidente do Irã (que no fim nem irá acontecer)  - auê maior na imprensa que na realidade.
 
Mil pessoas se reuniram para protestar em SP, outras mil no Rio. A imprensa alardeou que a visita conseguiu a proeza de "juntar em unanimidade judeus, evangélicos, homossexuais e entidades defendoras dos direitos humanos". Ora, é verdade que o regime atual do Irã merece ressalvas do ponto de vista dos direitos das mulheres, dos homossexuais etc. - dos direitos humanos em geral. Mas cadê os protestos quando vêm representantes de outros países que fazem igual ou pior que o Irã nesse sentido?
 
Mas sobretudo: como levar a sério qualquer defensor de direitos humanos que, neste momento pós-Gaza, aceite protestar ao lado de algum grupo judaico que não seja um grupo de auto-crítica e contra o governo atual de Israel?
 
Pois é um tempo em que judeus decentes de todo mundo sabem que - na melhor tradição bíblica - devem estar "vestidos de pano de saco e com a cabeça coberta de cinzas", ou seja: um momento de contrição, e jamais de apoio ao governo que acaba de cometer em Gaza uma barbaridade muitas vezes maior que tudo o que o regime islâmico do Irã já tenha feito em toda sua história!
 
Mas O PIOR VEM AGORA:  começam a pulular provas de que o auê todo contra Ahmadinejad, presidente do Irã, se baseiam em traduções falseadas do que ele andou dizendo, divulgadas principalemente a partir do New York Times. Afirmam que ele prega a destruição de Israel... mas tradutores abalizados do persa vêm apontando que o que ele disse foi:  "o regime que ocupa Jerusalém deve ser apagado da página do tempo".
 
O ponto passa a ser esse: Até quando abusarás, ó imprensa, da paciência nossa? (A formulação é uma brincadeirinha para quem, como eu, chegou a conhecer as duas ou três frases mais famosas do romano Cícero...)
 
Para quem quiser se aprofundar, reproduzo abaixo:
(1) A tradução integral do discurso de Ahmadinejad, compartilhada pela amiga Rita de Cássia Costa, para que cada um possa avaliar "o monstro" por si mesmo.
(2) Excelente artigo de Idelber Avelar a respeito desse caso - o qual traz no fim, de quebra, link para matérias sobre a comprovação de que o governo de Israel tem espionado sistematicamente dentro do próprio governo dos Estados Unidos. E cadê essa notícia na Folha de S.Paulo, Veja e quejandos?
 
Abraços a todos,
Zé Ralf
 

 
Discurso do Presidente Ahmadinejad, do Irã,
na "Durban Review Conference" (20-24/4/2009), Genebra, Suíça*

20/4/2009, PressTV, Teeran - http://www.presstv.ir/detail.aspx?id=92046

Ilustre presidente da Conferência, ilustre secretário-geral da ONU, ilustre Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos. Senhoras e senhores.

Estamos reunidos para dar prosseguimento à Conferência de Durban contra o racismo e a discriminaçao racial, para definir mecanismos que permitam pôr em ação nossas campanhas humanitárias e religiosas.

Ao longo dos últimos séculos, a humanidade tem passado por grandes sofrimentos e dores terríveis. Na Idade Média, condenavam-se à morte pensadores e cientistas. Depois se seguiu um período em que se praticaram a escravidão e o comércio de seres humanos. Inocentes eram capturados aos milhões, separados de suas famílias e entes queridos, para serem levados à Europa e à América, sob as piores condições. Período de trevas, em que a humanidade também conheceu a ocupação, a pilhagem e os massacres de inocentes.

Muitos anos passaram-se antes de que as nações erguessem-se e lutassem pela liberdade, pela qual sempre pagaram preço muito alto. Perderam-se milhões de vida na luta para expulsar os ocupantes e estabelecer governos nacionais independentes. Mas não demorou para que saqueadores do poder político impusessem duas guerras à Europa, que também varreram como praga parte da Ásia e África. Essas guerras terríveis custaram a vida de 100 milhões de pessoas e provocaram devastação massiva em todo o mundo. Se a humanidade tivesse aprendido o que havia a aprender daquelas ocupações, dos horrores e crimes daquelas guerras, já haveria um raio de esperança para o futuro.

Os poderes então vitoriosos autodesignaram-se conquistadores do mundo, ignorando ou subvalorizando direitos de outras nações e impondo leis de opressão e de arranjos internacionais.

Senhoras e senhores, consideremos por um momento o Conselho de Segurança da ONU, que é uma das heranças deixadas pelas duas guerras mundiais.

Que lógica há em o Conselho de Segurança assegurar apenas a alguns o direito de veto? Como essa lógica se harmonizaria com valores humanitários ou espirituais? Não seria lógica sempre discrepante dos princípios de justiça, de igualdade de todos ante a lei, do amor e da dignidade humana? O direito de veto não lhes parece sempre discriminatório e injusto, não implica sempre violação de direitos humanos e humilhação da maioria das nações e países?

O Conselho é o mais alto corpo político de decisores do planeta, para salvaguardar a paz e a segurança mundiais. Mas como se pode esperar que realize a justiça e a paz, se a discriminação está ali convertida em lei e a própria a lei é constituída mediante coerção e arbítrio, não pela justiça e respeito aos direitos de todos?

A coerção e a arrogância estão na origem da opressão e das guerras. Embora hoje muitos racistas condenem em seus discursos e slogans a discriminação racial, alguns países muito poderosos tem sido autorizados a decidir sobre suas políticas, baseados apenas em seus interesses e no próprio juízo. Assim têm podido facilmente violar todas as leis e todos os valores humanitários.

Logo depois da II Guerra Mundial, alguns daqueles países recorreram à agressão militar para arrancar de suas casas toda a população de uma nação inteira, sob o pretexto de que os judeus sofriam horrivelmente; aquelas nações enviaram migrantes refugiados para toda a Europa, para os EUA e para outras partes do mundo, e estabeleceram um governo totalmente racista na Palestina ocupada [2]. De fato, em compensação pelas terríveis consequências do racismo na Europa, ajudaram a implantar no poder, na Palestina, o mais cruel e repressivo regime racista.

O Conselho de Segurança ajudou a estabilizar o regime ocupante e apoiou-o durante os últimos 60 anos, dando-lhe pleno direito de cometer todos os tipos de atrocidades. É lamentável sob todos os aspectos, que alguns governos ocidentais e o governo dos EUA tenham-se comprometido na defesa desses racistas genocidas, enquanto a consciência dos homens e mulheres livres em todo o mundo condenavam a agressão, as brutalidades e o bombardeio contra civis em Gaza, Palestina. Os apoiadores de Israel têm defendido esses crimes e têm silenciado contra esses crimes.

Amigos, ilustres delegados, senhoras e senhores. Onde estão as causas radicais dos ataques dos EUA contra o Iraque ou da invasão do Afeganistão?

Não é outro o motivo que levou à invasão do Iraque, se não a arrogância do então governo dos EUA e a pressão crescente dos mais ricos e poderosos que visam sempre a expandir sua esfera de influência. Aí estão os interesses da poderosa indústria de armamento, destruindo uma cultura de mil anos, nobre em todos os sentidos, de longuíssima história. Tentam eliminar a potência e a ameaça direta que os países muçulmanos impõem hoje ao regime sionista, ao mesmo tempo em que defendem o regime sionista e querem assenhorear-se das fontes de energia do povo iraquiano?

Por quê, afinal, quase um milhão de seres humanos foram mortos ou feridos e mais outros milhões foram convertidos em exilados e refugiados? Por que, agora, o povo iraquiano sofre perdas que já alcançam as centenas de bilhões de dólares? E por que o povo dos EUA teve de ver consumirem-se bilhões de seus dólares, como custo dessas ações militares? A ação militar contra o Iraque não terá sido planejada pelos sionistas e seus aliados no governo dos EUA, cúmplices todos dos países fabricantes de armas e dos senhores da riqueza do mundo? A invasão do Afeganistão terá, por acaso, restaurado a paz, a segurança e o bem-estar econômico naquele país?

Os EUA e seus aliados fracassaram na missão de conter a produção de drogas no Afeganistão. O cultivo de narcóticos multiplicou-se, depois da invasão. A pergunta necessária é "quem responderá pelo que fizeram o então governo nos EUA e seus aliados, naquela parte do mundo?"

Representavam ali os países do mundo? Receberam de alguém algum mandato? Foram autorizados pelos povos do mundo a interferir em todos os lugares do globo – e sempre mais frequentemente na nossa região? Não são a invasão e a ocupação exemplos claros de autocentrismo, racismo, discriminação e violência contra a dignidade e a independência de tantas nações?

Senhoras e senhores, quem é responsável pela crise econômica pela qual passa o mundo? Onde começou a crise? Na África? Na Ásia? Ou começou nos EUA, contaminando em seguida toda a Europa e os aliados dos EUA?

Por longo tempo, usaram seu poder político para impor regulações econômicas desiguais na economia internacional. Impuseram um sistema financeiro e monetário sem adequado mecanismo de supervisão internacional sobre nações e governos que nada podiam, no sentido de conter tendências ou políticas. Sequer permitiram que outros povos supervisionassem ou monitorassem suas próprias políticas financeiras. Introduziram leis e regulações que agrediam todos os valores morais, exclusivamente para proteger interesses dos senhores da riqueza e do poder.

Mais ainda, apresentaram uma definição de economia de mercado e competição que nega muitas das oportunidades econômicas que poderiam ser acessíveis para outros países do mundo. Também transferiram seus problemas a outros, enquanto ondas de crises repercutiam sobre a própria economia, gerando milhares de bilhões de déficit no orçamento. E hoje, estão injetando centenas de bilhões de dólares tirados de seu próprio povo e de outras nações, para ajudar bancos, companhias e instituições financeiras falidas, o que torna a situação cada vez mais complicada para sua própria economia e para seu próprio povo. Estão pensando simplesmente em manter o poder e a riqueza. Não dão nenhuma atenção aos povos do mundo, sequer ao próprio povo.

Senhor presidente, senhoras e senhores.

O racismo nasce da falta de conhecimento sobre as raízes da existência do homem como criaturas escolhidas por Deus. Também é produto de desvio do verdadeiro caminho da vida humana e das obrigações da humanidade na criação do mundo, que leva a falhar nos deveres de conscientemente servir a Deus; nasce tambem de não saber pensar sobre a filosofia da vida ou o caminho da perfeição que são os principais ingredientes dos valores divinos e humanitários. Assim, essas ignorâncias restringiram o horizonte do olhar humano, tornando-o superficial, e tomando, como instrumento de sua ação, só os interesses mais limitados. É por isso que o poder do mal ganhou forma e expandiu seu domínio, ao mesmo tempo em que privou outros de todas as oportunidades justas e igualitárias de desenvolvimento.

O resultado foi o surgimento de um racismo sem limites que é hoje a mais grave ameaça que pesa sobre a paz internacional e tem comprometido todos os esforços para construir a coexistência pacífica em todo o mundo. Sem dúvida, o racismo é o principal símbolo da ignorância; tem raízes históricas e, de fato, é signo de que o desenvolvimento de uma sociedade humana foi frustrado.

É, portanto, crucialmente importante denunciar as manifestações de racismo em todas as ocasiões e em todas as sociedades nas quais prevaleçam a ignorância e pouca sabedoria. A consciência e a compreensão geral da filosofia da existência humana é o principal objetivo e princípio da luta contra manifestações de racismo. E revela a verdade: os seres humanos são o centro da criação do universo. A chave para resolver o problema do racismo é o retorno aos valores espirituais e morais e, afinal, implica voltar a servir a Deus Todo-Poderoso.

A comunidade internacional têm de iniciar movimentos que visem a ampliar a consciência coletiva, sobretudo nas sociedades em que o racismo e a ignorância prevaleçam; só assim pôr-se-á fim ao avanço dos danos causados pelo racismo, que é perverso.

Caros amigos. Hoje, a comunidade humana enfrenta um tipo de racismo que macula a imagem de toda a humanidade, no início do terceiro milênio.

O sionismo mundial personifica o racismo que é falsamente atribuído a religiões mas, de fato, abusa dos sentimentos religiosos para esconder sua horrenda face de ódio. Contudo, é importante que não percamos de vista os objetivos políticos de alguns dos poderes mundiais, dos que controlam os imensos recursos econômicos e os lucros, no mundo. Mobilizam todos os recursos, inclusive a influência econômica e política – e a mídia em todo o mundo –, para tentar ganhar apoio para o regime sionista e para ocultar a indignidade e a desgraça daquele regime.

Não se trata aqui de simples questão de ignorância. Ninguém pode pôr termo a esses horrores mediante campanhas consulares e diplomáticas. É preciso trabalhar com muito empenho para deter os abusos praticados pelos sionistas e seus apoiadores políticos e internacionais, e para fazer respeitar o desejo e as aspirações dos povos. Os governos antissionistas devem ser encorajados e apoiados com vistas a erradicar esse racismo bárbaro e para que se reformem os mecanismos internacionais hoje existentes.

Não há qualquer dúvida de que todos os senhores aqui presentes têm perfeito conhecimento da conspiração movida por alguns governos e pelos círculos sionistas contra as metas e os objetivos dessa conferência.

Infelizmente, houve declarações e declarações de apoio aos sionistas e seus crimes. É dever e responsabilidade dos respeitáveis representantes de todas as nações desmascarar essa campanha que corre na direção oposta a todos os valores e princípios humanitários.

Deve-se reconhecer e declarar que boicotar uma reunião como essa, e tentar degradar a excepcional capacidade política internacional que aqui se acumula, é perfeita manifestação de apoio aos racistas e é escandaloso exemplo de racismo. Para defender direitos humanos, é fundamentalmente importante, em primeiro lugar, defender os direitos de todas as nações do mundo, de participar em condições de igualdade no processos de tomar toda e qualquer decisão, sem qualquer tipo de pressão que venha de apenas alguns poderes mundiais.

Em segundo lugar, é necessário reestruturar as organizações internacionais existentes e suas respectivas constituições e acordos. Essa conferência, portanto, é como um campo de testes. A opinião pública, hoje e no futuro, julgará nossas ações e nossas decisões.

Senhor presidente, senhoras e senhores. O mundo está passando por mudanças profundas e muito rápidas. Relações de poder consideradas estáveis já se mostram frágeis, muito fracas. Ouve-se o "crack" dos pilares dos sistemas mundiais. As principais estruturas políticas e econômicas estão em ponto de colapso. No horizonte, já aparecem crises políticas e de segurança. O agravamento da crise da economia mundial, para a qual não se vê futuro melhor, demonstra que estamos sob a força de uma maré de mudanças globais. Tenho repetido e enfatizado que é necessário que o mundo abandone a rota errada em que caminhou por tanto tempo, e na qual ainda insiste.

Também tenho alertado repetidas vezes contra as terríveis consequências de qualquer desatenção a essa responsabilidade crucial.

Aqui, nessa importante conferência, entendo que já possa declarar a todos os líderes do mundo, aos pensadores e a todos os povos de todas as nações do planeta aqui representados, e que anseiam por paz e bem-estar econômico, que aquela ordem injusta que comandou o mundo já chega, hoje, ao fim de sua caminhada. É fatal que aconteça, porque a lógica desse poder imposto sempre foi a lógica da opressão.

A lógica do governo compartilhado e dos negócios planetários deve-se basear nos mais nobres anseios que há em todos os seres humanos e na supremacia de Deus Todo-Poderoso. Portanto, operará tão mais eficientemente quanto mais se façam ouvir todas as vozes de todas as nações. A vitória do bem sobre o mal e a construção de um sistema mundial justo é promessa que Deus e seus mensageiros fizeram à humanidade. Esse sistema mundial justo tem sido objetivo partilhado de todos os seres humanos e de todas as sociedades ao longo da história. Realizar esse futuro depende de conhecer o espírito da criação e a força da fé dos crentes.

Construir uma sociedade global é, afinal, alcançar o alto objetivo de estabelecer um sistema global comum do qual participem todas as nações do mundo, ouvidos todos em todos os processos de decisão, com vistas a esse mesmo objetivo.

Capacidades científicas e técnicas e tecnologias de comunicações criaram novas vias de entendimento para a sociedade mundial, entendimento partilhado e disseminado; essa é a base essencial para um sistema comum. Cabe, doravante, aos intelectuais, pensadores e construtores de políticas, em todo o mundo, assumir a responsabilidade de cumprir esse seu papel histórico, com firme crença de que esse é o caminho a seguir.

Quero também destacar o fato de que o liberalismo e o capitalismo ocidentais não se mostraram suficientemente potentes para perceber a verdade do mundo e dos homens como são. Sempre tentaram impor objetivos e rumos que eram só deles, a todos. Sem qualquer atenção a valores humanos e divinos de justiça, liberdade, amor e fraternidade; sempre viveram em intensa competição, pensando mais, sempre, em interesses materiais, individuais e corporativos.

É tempo de aprender com a experiência e iniciar esforços coletivos para enfrentar os desafios que aí estão. Nessa mesma linha de argumento, quero chamar-lhes a atenção ainda para duas questões importantes.

Primeiro, que é absolutamente possível melhorar a situação em que o mundo vive hoje. Mas deve-se observar que, para tanto, é indispensável que todos os povos e países cooperem, com vistas a construir mundo melhor para todos, fazendo render o máximo possível, para todos, todas as capacidades e os recursos com que o mundo conta hoje.

Participo hoje, presente nessa conferência, porque tenho a firme convicção de que as questões que aqui se discutem são importantes. E porque é dever de todos, e é responsabilidade comum de todos, defender os direitos de todas as nações contra o racismo sinistro, aqui, e solidários aos melhores pensadores do mundo.

Em segundo lugar, considerada a ineficácia do sistema político, econômico e de segurança hoje vigentes, é indispensável voltar a considerar os valores humanos e divinos, a verdadeira definição do homem e da humanidade, baseada na justiça e no respeito aos valores de todos os povos, em todo o mundo. Para isso, é necessário denunciar os erros e vícios dos sistemas que até hoje governaram o mundo; e é necessário que tomemos medidas coletivas para reformar as estruturas existentes.

Para tanto, é crucialmente importante reformar imediatamente a estrutura do Conselho de Segurança, com imediata eliminação do discriminatório direito de veto; e é preciso mudar os sistemas financeiro e monetário mundiais. Claro que, quanto menos se compreenda a urgente necessidade de mudar, mais nos custarão os adiamentos e atrasos.

Caros amigos. Andar na direção da justiça e da dignidade humana é como seguir o fluxo rápido das águas de um rio. Tenhamos sempre em mente a potência do amor e do afeto. O futuro prometido para todos os seres humanos é patrimônio valiosíssimo. Temos de nos manter unidos para construir outro mundo possível.

Para que o mundo seja melhor lugar, cheio de amor e bênçãos, mundo onde não haja nem ódio nem pobreza, mundo abençoado por Deus Todo-Poderoso, que levará à realização de todas as perfeições dos seres humanos, temos de nos dar as mãos em amizade e solidariedade, e trabalhar para realizar esse mundo melhor.

Agradeço ao presidente da Conferência, ao secretário-geral e a todos os ilustres participantes, a paciência com que me ouviram. Muito obrigado.

NOTAS DE TRADUÇÃO

Caia Fittipaldi

* 21-24/4/2009. É "conferência de revisão", prosseguimento da "World Conference against Racism, Racial Discrimination, Xenophobia and Related Intolerance" que foi iniciada em Durban, África do Sul, em 2001, chamadas respectivamente "Durban I" e, agora, "Durban II". A conferência de revisão foi organizada para estimular a ativação do que ficou definido como objetivos, na "Durban Declaration and Programme of Action"; visa a estimular o prosseguimento de ações, iniciativas e soluções práticas. Sobre a Conferência de Revisão, ver
http://www.un.org/durbanreview2009/. Em http://www.un.org/durbanreview2009/pdf/Draft_outcome_document_Rev.2.pdf pode-se ler a versão de documento a ser discutido nessa conferência de revisão.

Interessante observar que, entre 2001 e 2009, o mundo mudou muito dramaticamente. Em 2001, ainda não havia no mundo a clara consciência de que Israel opera como Estado racista, no coração do Oriente Médio. Hoje, o assunto já está em discussão, de fato, em todo o planeta – sobretudo depois do massacre de Gaza pelos israelenses e da ascensão ao governo de Israel, em eleições recentes, de partidos e políticos que manifestam clara ideologia racista. Nesse contexto é que se deve entender o 'boicote' à conferência de revisão. Os EUA de Obama e vários aliados europeus dos EUA 'boicotaram' a reunião. O presidente do Irã atacou diretamente o racismo sionista. Todas essas circunstâncias fazem desse discurso documento histórico importante.

[2] Hoje, a FSP publica versão diferente desse trecho: "Após a Segunda Guerra, eles recorreram à agressão militar para deixar uma nação inteira sem lar, sob o pretexto dos sofrimentos judeus e da ambígua e dúbia questão do Holocausto". Essa versão está publicada em FSP, 21/4/2009, "Ahmadinejad tumultua conferência da ONU", matéria assinada por Marcelo Ninio, de Genebra, em
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2104200901.htm [só para assinantes]).

Também na nota publicada hoje em O Globo (em http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2009/04/21/governo-brasileiro-externara-reprovacao-ao-discurso-de-ahmadinejad-contra-israel-755364490.asp), e que, segundo o jornal, teria sido divulgada pelo Itamaraty, há referência a comentário sobre o Holocausto, que haveria nesse discurso. Na versão publicada pela PressTV (BBC no Irã), em inglês, aqui traduzida, não há qualquer referência ao Holocausto.

 
04/05/2009 | Copyleft  
A histeria da direita com a visita de Ahmadinejad
Idelber Avelar

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15973

A julgar pelos gritinhos da República Morumbi-Leblon, pareceria que o Brasil nunca recebeu a visita do chefe de um estado autoritário. A julgar pelos videozinhos, você imaginaria que somente líderes de democracias tolerantes e liberais têm permissão de visitar o Brasil. É curioso que pessoas que não deram um pio acerca do inominável massacre israelense em Gaza venham agora posar de defensores dos direitos das mulheres iranianas. Não me consta, aliás, que alguém nessa turma tenha dito nada quando o Brasil recebeu a visita de Bush, responsável por uma guerra baseada em mentiras, pela adoção da tortura como política de estado, pelo campo de concentração de Guantánamo, pela morte de centenas de milhares de iraquianos.

Quando você vir alguém dessa turminha dizendo que Ahmadinejad propõe a exterminação dos judeus, faça algo muito simples: peça o link. Pergunte qual é a fonte. Pergunte quem traduziu o texto do persa. Porque o líder iraniano jamais disse isso. O que ele disse foi: "o regime que ocupa Jerusalém (een rezhim-e ishghalgar-e qods) deve ser apagado da página do tempo (bayad az safheh-ye ruzgar mahv shavad)." A tradução é de um dos maiores especialistas em Oriente Médio da contemporaneidade,
Juan Cole, confirmada por dois outros tradutores do persa. Leia a entrevista de Ahmadinejad e confira você mesmo. Sobrando um tempinho, assista ao vídeo da palestra de Ahmadinejad em Columbia University, cujo presidente o recebeu com uma grosseria que até hoje envergonha a nós, acadêmicos americanos.

Suponho não ser necessário esclarecer que eu acho muita coisa no discurso de Ahmadinejad absolutamente repugnante, especialmente as declarações sobre o homossexualismo. Não defendo o que ele diz. Mas há que se corrigir as mentiras. A calúnia de que Ahmadinejad ameaçou "varrer Israel do mapa" -- e, a partir daí, a afirmativa mais delirante ainda de que ele propõe a exterminação de judeus – tem uma longa história, que se remonta a uma
tradução manipulada do New York Times. É, meu chapa, quando se trata de Oriente Médio e do lobby pró-ocupação israelense, até as traduções devem ser minuciosamente revisadas.

Não custa lembrar, claro, que o Irã não invadiu país nenhum. O Irã não tem uma história de agressão contra seus vizinhos. Na guerra Irã-Iraque, o agredido foi ele, na época em que o depois demonizado Saddam Hussein era amiguinho de Donald Rumsfeld. Sim, é evidente que a situação dos direitos humanos no Irã é grave. Ela é quase tão grave como a situação na Arábia Saudita, país onde sequer existem eleições nacionais, mas cuja monarquia visita e faz polpudos negócios no Ocidente sem que se ouça um pio dos nossos preocupadíssimos democratas da República Morumbi-Leblon.

Qual é o país do Oriente Médio que ocupa ilegalmente terras de outrem há mais de quarenta anos, com uma história de sistemática agressão contra seus vizinhos e de desrespeito às resoluções das Nações Unidas? Qual é o país do Oriente Médio que
infiltra espiões até mesmo no território de seu maior aliado? Não é o Irã.

Aceito debater o Irã com qualquer membro da República Morumbi-Leblon que me ofereça um ou dois parágrafos articulados acerca de como era mesmo maravilhosa a situação no país persa entre 1954 e 1979. Afinal de contas, a julgar pelos horrorizados chiliques, você imaginaria que antes da Revolução Islâmica as coisas andavam muito bem por lá. Na verdade, a única vez em que o Irã esteve perto de chegar a um regime aberto e tolerante foi um pouco antes de 1954, quando a Frente Nacional de
Mohammed Mossadeq nacionalizou a indústria do petróleo. Mossadeq logo depois removido por um golpe de estado preparado pela CIA, naquilo que Robert Fisk, em sua obra monumental, chamou de primeira operação americana desse tipo durante a Guerra Fria (pag. 99). Com sua implacável verve britânica, Fisk acrescenta: pelo menos nós nunca afirmamos que Mossadeq tinha armas de destruição em massa.

O golpe de 1954 inaugura um período caracterizado por Fisk como de "monarquia absoluta" do Xá, controlada pela sua temida polícia política que, ao custo de assassinatos, tortura e supressão da oposição, garantiu a estabilidade necessária para que se exportassem 24 bilhões de barris de petróleo nos 25 anos que se seguiriam. A Revolução Islâmica canalizou a revolta da população iraniana, num momento em que muita gente ainda sonhava com a possibilidade de uma esquerda nacionalista e secular no mundo árabe. Essa foi uma opção que existiu durante algum tempo, com Nasser e cia., mas que sucumbiu ante os golpes de estado e as invasões americanas, assim como as sistemáticas agressões israelenses – com o apoio dos mesmos direitecas que agora acusam os críticos do sionismo e do imperialismo de serem cúmplices do bicho-papão islâmico.

Eu me pergunto se esses direitecas que histericamente gritam que Ahmadinejad quer "aniquilar" Israel sabem que o presidente do Irã sequer é o comandante-em-chefe das Forças Armadas do país. Quem tiver curiosidade arqueológica, que consulte a grande imprensa americana entre, digamos, 1998 e 2002. Naquele período, em que o reformista moderado Mohammad Khatami dava declarações de aproximação aos EUA e ao Ocidente, esses gestos eram descartados com o argumento de que o presidente do Irã não tem poder real – o mesmo fato do qual agora eles convenientemente se esquecem, para que possam apresentar Ahmadinejad como comedor de criancinhas.

Etiquetar Ahmadinejad como "ditador do Irã" é ridículo. Ele foi eleito. É verdade que sua vitória foi conquistada
com os mesmos métodos de George Bush. Mas se quiserem entender o clima que possibilitou sua eleição, há que se estudar um pouco a enorme frustração dos setores jovens iranianos com Khatami, que tentou e tentou se aproximar do Ocidente, sendo sistematicamente rechaçado.

A tarefa da esquerda é dupla. Desmascarar a mentirada e a hipocrisia da República Morumbi-Leblon e do lobby pró-Israel ao mesmo tempo em que oferece solidariedade aos setores da sociedade civil que estão lutando no Irã – e também na Arábia Saudita! – contra regimes que são, sim, bastante opressivos. Há que se fazer um coisa sem perder de vista a outra. Mas a iniciativa de querer expulsar Ahmadinejad do Brasil, vinda de gente que recebeu Bush sem dar um pio, tem um só nome: hipocrisia.

Portanto, sem prejuízo nenhum ao meu apoio aos que, no Irã, lutam por uma democracia real, não posso deixar de retrucar: Bem vindo, Ahmadinejad. Tome sua cachacinha com Lula (sim, sim, sei que é proibido...), visite algumas das maravilhas desse que é um dos mais belos países do globo e não ligue para a meia dúzia que protesta. Estão em vergonhosa minoria. Já não sabem em que se agarrar. Na última eleição, o candidato deles não conseguiu sequer repetir no segundo turno a votação que havia tido no primeiro. É compreensível que estejam tão histéricos.

(*) Artigo publicado originalmente no blog
O Biscoito Fino e a Massa.


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Ralf Rickli • arte em idéias, palavras & educação
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Imprensa como manipulação I: mais denúncias sobre a fabricação do pânico com a Gripe Suína

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O amigo Angelmar Roman, médico, repassa uma informação interessante de outro médico sobre a dimensão publicitário-comercial dessa fabricação de pânico, seguida de um artigo saído na imprensa mexicana sobre a dimensão política no quadro mexicano.  (Ralf)
 
----- Mensagem encaminhada ---- De: Paulo Roberto Volkmann <volkpr@terra.com.br>

Meus Caros Amigos,

por detrás desta tortura psicológica está a ROCHE com seu TAMIFLU, um medicamento anti-viral específico para gripe, mas que só tem alguma ação se for usado logo aos primeiros sinais e/ou sintomas de uma gripe. (estou eu aqui como propagandista da Roche)

Um abração a todos, do
Paulo R Volkman

O que não te contaram sobre a gripe do México
Os causadores da praga do México
Atualizado em 04 de maio de 2009 às 23:20 | Publicado em 04 de maio de 2009 às 23:19

Nomeiem os mortos!

por JAIME AVILÉS*, no jornal mexicano La Jornada (via Counterpunch)


Acima de tudo, a gripe que mudou a vida (e morte) de nosso país é um grito de denúncia da pilhagem sistemática que nós, milhões de mexicanos, sofremos nos últimos 27 anos -- anos que nos tornaram hoje fonte de infecção para toda a humanidade. O que aconteceu foi a consequência lógica e catastrófica de políticas irresponsáveis que dia a dia empurraram à pobreza cem milhões de nós, deixando a maioria faminta sem outra opção que a imigração ou o narcotráfico.

Durante o regime de Vicente Fox, o México teve o maior ganho de sua história com a exploração de petróleo, mas para nós nada sobrou da bonança. A maior parte do dinheiro foi usada para cortar impostos dos mais ricos entre os ricos e o resto -- um trocado -- está hoje em cercas e montes de estrume de um rancho em Guanajuato [rancho presidencial de Fox em San Cristóbal, de grandes dimensões; a esposa de Fox é acusada de ter usado o poder dela para criar e enriquecer múltiplos negócios através dos filhos], nas companhias dos filhos de Marta Sahagún e nas contas bancárias de homens e mulheres do regime.

Enquanto isso, não há um único laboratório, nem mesmo no maior centro de conhecimento da nossa universidade nacional, a UNAM, capaz de detectar a mutação de um vírus ultimamente chamado de A/H1N1. Como Enrique Galván Ochoa e Luis Linares Zapata documentaram bem nas páginas do La Jornada ao longo desta semana excepcional, no México tínhamos uma companhia estatal chamada Birmex, que era capaz de fornecer "vacinas, imunoglobulinas e reagentes de diagnóstico para instituições de saúde pública dos estados da República mexicana". Fox desmantelou a Birmex.

Antes de Fox, o ex-presidente Ernesto Zedillo [agora na universidade de Yale] fechou tanto o Instituto Nacional de Higiene quanto o Instituto Nacional de Virologia, que se dedicavam a estudar vírus e a desenvolver vacinas para combatê-los. Nada sobrou.

Os primeiros casos da atual gripe na Cidade do México não foram detectados, entre outras razões, porque o Ministério da Saúde não tinha as ferramentas para identificá-los. Demorou alguns dias, depois de múltiplos contágios e algumas mortes, para que o médico governamental -- o limitado e sempre hesitante José Angel Córdova Villalobos -- mandasse algumas amostras para laboratórios canadenses pedindo a eles, por favor, que nos dissessem o que estava causando aquela gripe incomum.

O planeta está em choque porque, mesmo 10 dias depois daquela mensagem noturna terrorista de Córdova Villalobos na quinta-feira da semana passada, o "governo" (ou o que quer que seja) de Felipe Calderón ainda não revelou os nomes de qualquer uma das vítimas fatais do vírus, que mais cedo ou mais tarde entrará para a história como o vírus da gripe do México. Depois de acidentes aéreos, rodoviários, terremotos, enchentes e incêndios as autoridades divulgam os nomes dos mortos. Mas agora não -- e ninguém sabe explicar o motivo.

Não é preciso ser muito inteligente para entender que Calderón e o seu médico governamental se negam a dar os nomes dos mortos deve ser para esconder informações que poderiam destruir a lógica do governo de gerenciar a crise usando ferramentas de pânico social.

É fundamental que a gente saiba: Quem foram os mortos? Que idade tinham? Onde moravam? Qual seu status socioeconômico? Qual a ocupação deles?

Em outras palavras: eles viviam em domicílios com água corrente, banheiro, chuveiro, piso de cimento, eletricidade? Quantas pessoas havia na família, quantos dormiam no mesmo quarto, quantos banhos tomavam? Eram obesos? Subnutridos? Quantas vezes por dia comiam e o que comiam? Quando andavam em seus bairros e vilas, passavam por perto das fazendas de criação de porcos? O ambiente cotidiano deles estava saturado com fezes de aves ou porcos? Eles tiveram contato com os animais?

Muitos no México suspeitam que os mortos nessa epidemia pertencem à mais desprotegida camada de nossa sociedade, que testemunhamos mais uma vez uma doença da miséria e que o real objetivo das medidas aplicadas até agora em um país com mais de 50 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza extrema é isolar os mais pobres de nós, menos pobres, e com certeza dos ricos. Isso poderia explicar o fechamento total de escolas, restaurantes, bares, escritórios, cinemas, teatros, ginásios, piscinas, etc. Mais cedo ou mais tarde isso vai se tornar claro.

Em mais um ato de impulso totalitarista, Calderón impôs por conta própria o segredo funerário. Isso é uma violação do direito à informação não apenas dos mexicanos, mas de toda a humanidade. Enquanto ele esconder informação-chave, como os nomes dos mortos, o aparato de terror eletrônico vai permitir ao governo continuar a nos manipular à vontade.

Não é hora de pedir a nossos amigos em todo o mundo para levantar uma onda de solidariedade internacional contra essa forma de censura? Vamos pedir uma autópsia do grupo social que está morrendo dessa gripe. Teremos que marchar de novo até o Zócalo, fazer greve de fome, bloquear rodovias, antes que eles nos dêem os nomes dos mortos?

O México é um dos países mais ricos do continente americano mas uma peste voraz, mais destrutiva e mortal que a gripe suína, nos transformou em um país mais fraco, mais faminto e com menos esperança que o Haiti e mesmo que a pobre Honduras, uma República da Banana sem bananas. Essa peste são os políticos neoliberais do PRI e do PAN, a praga dos Salinas e Zedillos, dos de-la-Madrids e Foxes, todos a serviço de um punhado de milionários insaciáveis.

Por que permitimos que isso acontecesse? Por que permitimos que nos desprezassem? Estávamos enganados quando fomos às ruas com as bandeiras brancas para por fim à rebelião indígena de Chiapas?

Por que outras vítimas desse vírus, que vivem com boa higiene, se recuperam? Por que vivemos sob a psicose de que o A/H1N1 supostamente prefere gente entre 20 e 45 anos de idade? Como é que fomos convencidos disso sem nem mesmo saber os nomes dos mortos?

No México testemunhamos uma campanha descarada contra López Obrador nas últimas eleições, quando ele foi chamado de "um perigo para o México"; vimos Calderón assumir o poder depois de uma eleição maciçamente contestada, alegando que usaria "quaisquer meios" para isso; vimos Calderón renegar as promessas de campanha, começando pela criação de empregos; e vimos quando embarcou em uma guerra "contra" os narcos que apenas militarizou o país e permitiu a Calderón um controle maior do país; vimos nessas ações que ele arriscou a segurança nacional de nosso país e dos Estados Unidos.

Assim, nós mexicanos temos clareza e maturidade suficientes para saber que Calderón não está acima de tudo: se um dia ele se vestiu de soldado para lançar as forças armadas em uma trágica aventura, ele agora veste o avental branco para nos manter sob prisão domiciliar, suando de pânico.

Há dois objetivos que surgem dessa epidemia na agenda dos cidadãos: exigir que o "governo" (ou o que quer que seja)  nos dê os nomes dos mortos e pedir mudanças radicais na agenda de pesquisas científicas. Da mesma forma que forçamos esse presidente espúrio a construir uma refinaria nova, nacionalizada, para aumentar nosso controle sobre a riqueza do petróleo, agora precisamos lutar por novos laboratórios e pela restauração do ensino de filosofia, ética e estética [referência à tentativa de remover essas disciplinas do currículo obrigatório].

Basta! Já deu! Não vamos sofrer nem mais um dia sob a tirania desse regime da ignorância!

*Jaime Avilés é colunista do La Jornada


--
Maurício Assunção Pereira

 
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05 maio 2009

Fw: 16/5 FEIRA DE TROCAS - PRATIQUE

Acabo de receber da amiga Lolita Sala. Me parece que merece atenção...  (Ralf)

"to realize" significa entender. quem nao realiza, nao entendeu.
quando voce pratica, treina, começa a entender realmente e cada vez mais
economia solidária nao se aprende em livros, é preciso começar em algum lugar...
por favor ajudem a divulgar. beijão a tod@s , saudade .... Lolita
 
---------- Forwarded message ---------- From: Isabele Amrmc feiradetrocasolidaria@yahoo.com.br
 
PARTICIPE DA FEIRA DE TROCAS SOLIDÁRIAS DO CENTRO DE SÃO PAULO!!!

OPORTUNIDADE de substituir competição por cooperação e solidariedade,
através das trocas de bens, serviços e saberes
utilizando uma moeda social que só serve para facilitar as trocas e não para acumular.

Não perca essa oportunidade de vivenciar uma Economia Solidária, circular e fraterna!!!
Os produtos mais procurados são Roupas Masculinas, produtos de higiene e Alimentos prontos ou pereciveis!
 
Caso queira COLABORAR no evento envie um e-mail para: feiradetrocasolidaria@yahoo.com.br
 
Para saber mais sobre o projeto acesse o blog da feira de trocas: http://feiradetrocascentro.blogspot.com

convite FTS.JPG


02 maio 2009

In memoriam AUGUSTO BOAL e REINALDO MAIA

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Foi-se Augusto Boal, o criador do conceito Teatro do Oprimido, grande nome do teatro e da cultura brasileira em geral.
 
Concorde-se ou não com tudo dele, sua importância é ENORME. Ao lado de Paulo Freire, criador da Pedagogia do Oprimido, é um dos poucos teóricos brasileiros reconhecidos com unanimidade em todo o mundo. Quem sabe antes de mais nada pela características de serem teóricos práticos, pessoas para quem toda ação continha reflexão, e toda reflexão estava totalmente a serviço da ação - ação de transformar o mundo.
 
Há umas duas semanas foi-se aqui em Sampa outro nome do teatro - um tanto menos conhecido, mas também comprometido com o teatro-como-arma-de-transformação:  Reinaldo Maia, envolvido com a história do Teatro Arena. Desde que ele se foi me sinto com a dívida de registrar publicamente o quanto as oficinas de dramaturgia dele foram de valor para mim, entre outros contatos. Homem de um enorme conhecimento da cultura popular brasileira! Dei umas aulas de inglês no apartamento dele - e mal conseguia me concentrar, tantos eram os objetos de arte e artesanato maravilhosos que enchiam todas as paredes e estantes - sem falar dos livros!
 
Quero me permitir imaginar que o Maia esteja recebendo o Boal alegremente agora, em algum lugar, e tramando-se no maior bate-papo... Que a inspiração deles possa estar conosco – e com eles a nossa gratidão!
 
Zé Ralf - em 02.05.2009
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