Acredite nos que buscam a verdade... Duvide dos que encontraram! (A.Gide)

28 fevereiro 2009

ainda NÃO deu na imprensa: quem é o pai da DITABRANDA na Folha?

Peço licença de compartilhar com vocês um achado que ainda NÃO está na imprensa.
 
Como prelúdio, é fundamental mencionar o recém-aparecido relato de Ivan Seixas, de que ele (com 16 anos) foi preso e torturado junto com seu pai Joaquim em 16.04.1971. Detalhe: levaram Ivan para tortura no Parque do Estado, e pelas frestas da viatura ele viu A NOTÍCIA DA MORTE DO PAI, estampada na Folha da Tarde, QUANDO O PAI AINDA ESTAVA VIVO; morreu na tortura mais tarde, quando o jornal do grupo Folha já estava nas bancas...  (mais na matéria de Rodrigo Vianna em http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15744 ) 
 
Mas quem é o pai do termo "ditabranda" (com que o editorial da Folha de S.Paulo de 17.02.2009 classificou a ditadura militar brasileira de 1964-85)?
 
Em um ótimo artigo de 27/02, o jornalista Luiz Antonio Magalhães diz que buscando no Google não encontrou nenhum precedente no uso desse termo infame. ( O artigo do Luiz pode ser lido em http://www.correiocidadania.com.br/content/view/2992/9/ )
 
Pois bem: buscando nos arquivos da própria Folha eu encontrei o precedente!
 
Foi num artigo da seção Tendências/Debates de 17... 09.2004. Reparem só na temática e no estilo, praticamente idênticos ao do recente editorial e das respostas malcriadas a Maria Victoria Benevides e Fabio Konder Comparato:
 
Preocupa-me sobretudo o risco de que, na falta de defesas eficazes nas instituições políticas e na sociedade, os sinais de deterioração continuem se avolumando até desaguar numa crise política grave. Ou, pior, na configuração de uma "democradura" - um híbrido semelhante, mas com viés histórico oposto, à "ditabranda" do general Geisel. // Estou vendo fantasmas? O silêncio envergonhado ou a desconversa de próceres do PT e áreas próximas me dizem que não. E a lentidão da própria oposição para acordar para o problema me dá, confesso, um nervoso danado.// Pronto, entreguei-me. Antes que a doutora Milan mande me internar, eu pediria a ela e a qualquer um de plantão o conforto de uma palavra clara contra esses desmandos, a favor das liberdades democráticas.
Que tal?  Esse texto completo está em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1709200410.htm
 
Mas... é assinado por quem?  "Eduardo Graeff,  54, sociólogo, foi assessor parlamentar e secretário-geral da Presidência da República no governo Fernando Henrique"
 
Interessante, não?  Mas é tudo?  
Nãããããão!!!
 
Olha só o que alguém falou desse senhor Eduardo Graeff, aparentemente em 1999:
 
"A Secretaria de Relações Institucionais esteve com o Dr. Eduardo Graeff. Os que não sabem, saibam que o Dr. Graeff foi meu aluno. Trabalhou comigo a vida inteira, como meu assessor direto. Poucos, em certas épocas da minha vida, foram capazes de interpretar melhor o que eu pensava e escrever melhor do que eu, como o Dr. Eduardo Graeff."  E ainda:
 
"Uma pessoa como Eduardo Graeff, portanto, só poderia fazer o que ele vai fazer: continuar muito perto do presidente da República, ajudando o presidente da República a ter idéias mais claras sobre assuntos importantes e (...) a ser capaz de entender também, com maior justeza, a natureza dos problemas. O Dr. Eduardo Graeff continuará, portanto, integrado à nossa equipe de trabalho."
 
E quem disse isso senão... Fernando Henrique Cardoso?
(discurso de posse de novos ministros, sem data, aparentemente em 1999, em http://www.radiobras.gov.br/integras/99/integra_1907_2.htm )
 
E pensar que um dia, nos tempos do jornal Opinião, a gente pensavem em FHC como uma esperança da esquerda...
 
Gente, tô virando jornalista investigativo...  Alguém não quer me pagar pra fazer isto, não? rsrsrs
Abraços gerais,
 
Zé Ralf
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Ralf Rickli • arte em idéias, palavras & educação
http://ralf.r.tropis.org • (11) 8552-4506
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se fosse no Brasil

Está em toda a imprensa mundial: que simpático, não, esse presidente que se mostra assim informal, bebericando uma cerveja com um amigo em plena torcida de um jogo dos Chicago Bulls...
 
Obama bebe cerveja na platéia do jogo do Chicago Bulls
 
Fosse no Brasil, quantos editoriais já teriam saído clamando contra o ridículo e intolerável POPULISMO de Lula aparecer na torcida de algum jogo do Corinthians, ou fosse de quem fosse?
 
Sem falar dos tantos que já estariam urrando "viu, viu, o New York Times tinha razão, o sujeito é um alcoóltra sem condições de governar!!..."
 
(Só não confundam, eu não estou dizendo que nada disso se aplicaria com propriedade ao Obama... Só chamando atenção para uma mania usual dos complexados e/ou mal-intencionados entre nós brasileiros - que infelizmente não são poucos...)
 
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Ralf Rickli • arte em idéias, palavras & educação
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24 fevereiro 2009

Suicídio moral da Folha de S.Paulo - convite a assinar protesto

Acabo de entrar como n.º 1507 no abaixo-assinado iniciado por ninguém menos que Antonio Candido em protesto contra o cinismo deslavado da Folha de S.Paulo de chamar a ditadura militar brasileira de "ditabranda" no editorial de 17/02, e ainda por cima acusar de cínicos e mentirosos os protestos dos notáveis professores e intelectuais participantes Maria Victoria Benevides - de quem foi enorme honra ter sido aluno - e Fabio Konder Comparato.
 
Em nome daquelas vidas que conheci pessoalmente, entre as tantas que foram destruídas ou aleijadas por essa ditadura - inclusive parentes -, bem como da educação e cultura do povo brasileiro que foram cuspidas e rebaixadas por aquele regime falso e vendido, convido a todos os meus amigos a também se juntarem ao abaixo-assinado:
 
http://www.ipetitions.com/petition/solidariedadeabenevidesecomparat/index.html
obs: depois de assinar abre-se um página pedindo doações para manutenção do sistema, 
mas não é obrigatório, é só fechar a página.
 
 
Aproveito e mando mais alguns materiais em apoio:
 
Artigo da Agência Carta Maior que inclui as seguintes revelações sobre o passado da Folha (que durante algum tempo conseguiu fingir ter uma história moral e politicamente digna): "A Folha de São Paulo não só nunca foi censurada, como emprestava a sua C-14 [carro tipo perua, usado para transportar o jornal] para recolher torturados ou pessoas que iriam ser torturadas na Oban [Operação Bandeirante]." (Entrevista com Mino Carta. Por Adriana Souza Silva, da Redação AOL, abril de 2004). "Como demonstrou Beatriz Kushnir (...) a Folha cedia as vans para o Doi-Codi fazer diligências, levar suspeitos para as sessões de tortura e fingir que se tratava de um carro de reportagem em atividade jornalística". (Paulo Henrique Amorim, comentando o livro "Cães de Guarda" – jornalistas e censores do AI-5 à Constituição de 1989", de Beatriz Kushnir, Boitempo Editorial).
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15717
 
 
Do EDITORIAL DA FOLHA DE S.PAULO de 17.02.2009 contra Chávez
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1702200901.htm
 
Outra diferença em relação ao referendo de 2007 é que Chávez, agora vitorioso, não está disposto a reapresentar a consulta popular. Agiria desse modo apenas em caso de nova derrota. Tamanha margem de arbítrio para manipular as regras do jogo é típica de regimes autoritários compelidos a satisfazer o público doméstico, e o externo, com certo nível de competição eleitoral.
Mas, se as chamadas "ditabrandas" -caso do Brasil entre 1964 e 1985- partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça-, o novo autoritarismo latino-americano, inaugurado por Alberto Fujimori no Peru, faz o caminho inverso. O líder eleito mina as instituições e os controles democráticos por dentro, paulatinamente.
 
CARTAS DE PROTESTO E RESPOSTAS DA REDAÇÃO EM 19 e 20.02.2009
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1902200910.htm

"Golpe de Estado dado por militares derrubando um governo eleito democraticamente, cassação de representantes eleitos pelo povo, fechamento do Congresso, cancelamento de eleições, cassação e exílio de professores universitários, suspensão do instituto do habeas corpus, tortura e morte de dezenas, quiçá de centenas, de opositores que não se opunham ao regime pelas armas (Vladimir Herzog, Manuel Fiel Filho, por exemplo) e tantos outros muitos desmandos e violações do Estado de Direito.
Li no editorial da Folha de hoje que isso consta entre "as chamadas ditabrandas -caso do Brasil entre 1964 e 1985" (sic). Termo este que jamais havia visto ser usado.
A partir de que ponto uma "ditabranda", um neologismo detestável e inverídico, vira o que de fato é? Quantos mortos, quantos desaparecidos e quantos expatriados são necessários para uma "ditabranda" ser chamada de ditadura? O que acontece com este jornal?
É a "novilíngua"?
Lamentável, mas profundamente lamentável mesmo, especialmente para quem viveu e enterrou seus mortos naqueles anos de chumbo.
É um tapa na cara da história da nação e uma vergonha para este diário."
SERGIO PINHEIRO LOPES (São Paulo, SP)

Nota da Redação - Na comparação com outros regimes instalados na região no período, a ditadura brasileira apresentou níveis baixos de violência política e institucional.

"Mas o que é isso? Que infâmia é essa de chamar os anos terríveis da repressão de "ditabranda'? Quando se trata de violação de direitos humanos, a medida é uma só: a dignidade de cada um e de todos, sem comparar "importâncias" e estatísticas. Pelo mesmo critério do editorial da Folha, poderíamos dizer que a escravidão no Brasil foi "doce" se comparada com a de outros países, porque aqui a casa-grande estabelecia laços íntimos com a senzala -que horror!"
MARIA VICTORIA DE MESQUITA BENEVIDES , professora da Faculdade de Educação da USP (São Paulo, SP)

"O leitor Sérgio Pinheiro Lopes tem carradas de razão. O autor do vergonhoso editorial de 17 de fevereiro, bem como o diretor que o aprovou, deveriam ser condenados a ficar de joelhos em praça pública e pedir perdão ao povo brasileiro, cuja dignidade foi descaradamente enxovalhada. Podemos brincar com tudo, menos com o respeito devido à pessoa humana."
FÁBIO KONDER COMPARATO , professor universitário aposentado e advogado (São Paulo, SP)

Nota da Redação - A Folha respeita a opinião de leitores que discordam da qualificação aplicada em editorial ao regime militar brasileiro e publica algumas dessas manifestações acima. Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio a ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua "indignação" é obviamente cínica e mentirosa.


FOLHA: NÃO DÁ MAIS PRA NÃO SE ENOJAR!

11 fevereiro 2009

Fw: bela PÓS p quem tem formação Waldorf e/ou AS: AINDA HÁ VAGAS

Não importa (muito) onde você mora: é um fim-de-semana por mês (e alguns períodos mais longos) por 3 semestres, em Três Corações, sul de Minas Gerais. Pós-graduação lato sensu (= especialização).

Achei a proposta do curso muito bonita e inteligente, interessada em refletir sobre a PW e AS no contexto da contemporaneidade de modo aberto - e então foi com enorme satisfação que aceitei o convite de participar como docente em alguns núcleos.

Falta preencher algumas vagas pra começar em março, senão o início terá que ser adiado. Vamo pra lá, gente?!? Tenho certeza que será uma experiência suculenta... e proveitosa! 

Leia mais na mensagam abaixo, no anexo e/ou nos sites oficiais (links abaixo).


Prezado amigo,
 
Pedimos a gentileza de colaborar com a divulgação da Pós-Graduação lato sensu EDUCAÇÃO ECOLÓGICA WALDORF: linguagem e estética na contemporaneidade, que acontecerá a partir de março de 2009, na Universidade Vale do Rio Verde – Unincor.
 
A participação é exclusiva para profissionais formados em Pedagogia Waldorf ou em cursos de inspiração antroposófica equivalentes.
 
O corpo docente é constituído por professores doutores e mestres ligados à Pedagogia Waldorf que atuam nas principais universidades do país.
 
Os módulos mensais seguem a estrutura dos cursos de formação antroposófica.
 
Euritimia e atividades artísticas estarão presentes em todos os módulos.
 
Além de fomentar a pesquisa e difundir o goetheanismo como seu instrumento, o curso possibilitará a formação de um corpo de especialistas em Pedagogia Waldorf aptos a lecionar em instituições de Ensino Superior.
 
Site oficial do projeto: www.poswaldorf.com
 
Blog com as informações atualizadas: www.eeewaldorf.blogspot.com
 
Site da universidade: www.unincor.br
 
Apóie e divulgue essa proposta!
Atenciosamente,
Gabriela
divulgação

10 fevereiro 2009

Wagner Demétrio - homenagem

Wagner Marcelo de Souza Faborges
WAGNER DEMÉTRIO
05.01.1978 -10.02.2009

NOSSO TRIBUTO DE GRATIDÃO E AMIZADE SEMPRE!

Meu maior professor de Cultura Afro-Brasileira e tantos outros saberes tradicionais
Companheiro de tantos momentos intensos, para mim e para todos da Trópis

          

Você que nos ajudou a ver de modo tão vivo
que não existem separações no Universo -
estamos juntos sempre, amigo Wagner
nesse abraço do tamanho do cosmos!

SEUS AMIGOS DA TRÓPIS

 

Wagner Demétrio - homenagem

programa bobo!! perdeu as fotos na primeira vez que mandei! postei uma segunda vez e aí deu certo. eita esse "pessoal" da Microsoft (mandei pelo Outlook Express), que nunca entende nada de primeira! rsrs

vai lá na segunda postagem do mesmo nome que o meu amigo está lá

08 fevereiro 2009

Paraisópolis, Gaza e a ideologia da dominação

Postagem original: 06.02.2009  17:25  •   A presente postagem é versão 2, consideravelmente melhorada.
E obrigado aos espanhóis pela invenção do magnífico sinal ¿, que marca onde uma pergunta começa!

 

No dia 4 passado, ao postar neste blog o tocante "depoema" da professora Diane Padial, escrito numa escola no meio da favela de Paraisópolis (São Paulo) em estado de conflagração, acabei acrescentando um comentário meu no final. Escrevi: "Gaza também é aqui".

 

Isso carregava um conjunto de sentidos que, percebi depois, não ficou claro para muitos amigos. Pode ter parecido que eu quissesse chamar as duas de "zonas de guerra" no sentido de aí acontecer agressão recíproca entre duas partes comparáveis - e pior: que eu acreditasse que, não havendo explosões tiros pedradas ou barricadas, esses dois lugares estariam "em paz".

 

Nada mais longe disso!!

 

Se os palestinos com origem ou refugiados na faixa de Gaza estivessem quietinhos, sem incomodar Israel com nenhum dos seus foguetinhos (que são pouco mais que pedras de maior alcance jogados por cima do muro), isso já não seria paz.

 

Pois violência existe em forma de ação no momento, mas também em forma de estruturas opressivas construídas por ações passadas. Se eu amarrar em uma pessoa um cinturão com pontas de aço que limitam o movimento e ferem, e que ela não tem como retirar, e depois for embora deixando-a "livre", ¿será que a violência só existiu no momento em que eu estava amarrando o cinturão? ¿Não é óbvio que essa pessoa vive sob a minha violência todos os instantes, mesmo se eu já estiver em outro lugar? (Quem sabe até mesmo fazendo um carinho em uma criança...) 

 

PARAISÓPOLIS!

Paraisópolis é um lugar engraçado: a única favela que conheço com malha ortogonal - ou seja: ruas retas em ângulo reto, quarteirões quadrados ou retangulares. Quis saber como é possível. Num site da Prefeitura descubro que ela deriva do loteamento de uma parte da antiga Fazenda Morumbi, feito já na década de 1920!! 

 

Acontece que os proprietários lotearam um lugar sem infra-estrutura em torno e o deixaram abandonado, também sem infra-estrutura dentro. E aos poucos esses vazio-com-ruas-retas foi sendo ocupado ("invadido") por quem tinha bom uso para ele: proletários. Isto é: pessoas cuja única posse é a própria prole (como se dizia em Roma), ou cujo único "capital" para entrar numa sociedade é a própria força de trabalho (na definição marxista).

 

A ocupação se acelerou nas décadas de 60 e 70... e só depois que aquilo já tinha virado cidade devido ao pioneirismo dos paraisopolitanos é que chegou, da década de 80 para cá, a ocupação com os prédios de luxo - cujos moradores jamais saem àquelas ruas senão de automóvel, queixando-se que essas ruas são insuficientes e vez por outra atropelando alguma criança dos moradores mais antigos.

 

Os novos moradores têm títulos de posse do chão, à maneira européia herdada de Roma. Os que ocuparam a área nos 60 anos anteriores, esses não tinham. Quem tinha era naturalmente o proprietário da fazenda, ou seus sucessores legais.

 

Mas, e como começou que essa fazenda fosse uma "propriedade", um dia?

 

Começou evidentemente com a ocupação-de-fato daquele chão por alguém de cultura "branca" (européia), pessoa que depois de ocupar sabia como registrar o fato junto às autoridades constituídas por seu próprio povo (o povo que começou a invadir a região em meados do século 16, ocupando e tomando posse na força, sempre na força).

 

E quem são os moradores da favela? Olhemos para o conjunto dos genes que vivem na favela: em terceiro lugar, numericamente, há uma certa parcela de genes "brancos", de europeus que já vieram como subalternos ou que "decaíram" aqui ao estado de proletários. Em segundo lugar, uma parcela bem mais significativa de genes "negros", trazidos e largados aqui à força, não por sua própria escolha. E a massa genética principal, em que de certa forma as outras duas se dissolvem, é indubitavelmente indígena: dos povos que faziam uso das terras deste continente não há 500, mas há mais de 10.000 anos  (dez mil).

 

Apenas que sem a precaução de registrar essa posse em cartórios.

 

Acuados pela gradual imposição a todo o país de um modo-de-produção-e-de-vida que não tem nada a ver com sua herança cultural... sem lugar numa sociedade que se impõe mais e mais como única forma de ser lícita em todo o país... este povo mesclado mas de base fundamentalmente índia encontra vez por outra um espaço onde se assentar e se dar tempo e fôlego pra poder continuar na sua interminável e geralmente infrutífera tentativa de inventar um jeito de viver dentro da vasta realidade "moderna" que lhes foi imposta por força (ou no mínimo por atos de astuciosa má-fé).

 

Uma de tais comunidades se chama Paraisópolis. O nome não é tão irônico: ocupa um vale suave que foi realmente muito bonito, nas proximidades do Rio Jyrybatyba (Pinheiros) - parte da região que um dia o índio Caiubi tentou organizar como frente de resistência ao avanço dos brancos do outro lado do rio.

 

Como já disse, faz só vinte anos, ou pouco mais, que gente de classe média alta e até mais que isso começou a se instalar por ali com seus prédios e seus carros, e a exigir das autoridades que, para seu bem-estar, mantenham os antigos moradores acuados.

 

GAZA.

Palestinos são parcialmente descendentes dos filisteus, povo que veio por mar e ocupou parte dessa região mais ou menos ao mesmo tempo em que os hebreus vinham por terra, do Egito, seguindo a palavra-de-ordem de que Deus havia prometido essas terras a seu ancestral Abraão, uns 400 anos antes.

 

A massa genética principal do povo palestino é porém bem anterior aos filisteus: é a mesma que já ocupava essa região muitos milênios antes de Abraão.

 

Mas pelo que li na Wikipedia, dizer isso é considerado exploração indevida de dados científicos para fins políticos... Quer dizer: não se deve pesquisar nessa direção porque se poderia descobrir o óbvio, e o óbvio não é favorável a quem está no poder, e o que não é favorável a quem está no poder é "manipulação tendenciosa", claro...

 

Tenho lido e ouvido coisas como: "Ora, Israel tem o direito de defender sua terra dos ataques dos palestinos, esses encrenqueiros nem um pouco razoáveis" - ou coisas assim.  Mas como "sua" terra, senhoras??

 

Sim, um Estado constituído por hebreus chegou a ser a autoridade dominante sobre parte daquelas terras por consideráveis séculos, admito. Mas esses séculos todos nem chegam a somar mil anos, no correr de toda a História. E esses nem-mil-anos se dividem assim: 60 anos de 1949 para cá, o resto todo entre 2 e 3 mil anos atrás.

 

Estamos falando da segunda região do planeta a ser ocupada pelo Homo Sapiens, logo de saída da África - mas obviamente os descendentes dos povos que viviam naquela região muitos milênios antes de Abraão não tinham o direito de ter feito suas vidas lá, criado suas famílias com uso daquelas terras, durante os 1879 anos em que não houve poder judaico na região... Obviamente deveriam ter ficado em volta, deixando tudo com uma plaquinha "reservado para o povo de Israel quando ele voltar". Ou então deviam ter atuado como caseiros decentes, que desocupam o espaço rapidinho quando os donos voltam...

 

Mas quê donos, senhores? Certo, hebreus estão ligados àquela terra há bem mais que os 20-30 anos em que os novos-morumbienses vêm sitiando Paraisópolis... Ainda assim, quando o rei-sacerdote canaanita Melquisedec recebeu Abraão com pão e vinho e bênção na já antiga cidade de Paz (Salem, mais tarde Jerusalém), estava semeando o projeto de um estado cananeu multiétnico e multirreligioso, há uns bons 3500 anos - e lamentavelmente foram sempre os descendentes judeus de Abraão que furaram esse projeto, com atos de avidez por domínio unilateral e excludente.

 

A IDEOLOGIA QUE IMPEDE A PAZ.

Há considerável mescla genética entre os povos judeu e cananeu-palestino: biologicamente não seria possível dizer com segurança onde termina um e começa outro. Do mesmo modo entre os brasileiros das classes dominantes e os das favelas. A diferença está mais é na programação mental.

 

Seria falso, é verdade, dizer que cada par desses é uma coisa só: é mais como um oval com dois polos diferenciados, embora sem limite nítidos entre os dois lados.

 

Nos dois casos o polo dominante é demograficamente menor, tanto no caso da Terra de Canaã quanto no Brasil - sendo o caso do Brasil muito pior: a população dominante aqui é ridiculamente pequena em comparação com "as massas". E ainda assim consegue dominar, com a força que sua ideologia lhe dá.

 

Ideologias são programas mentais que costumam vir expressos em termos religiosos ou então pseudo-científicos - por exemplo, "explicações" históricas, antropológicas, econômicas, sociológicas etc. que enfatizam alguns pontos e escondem outros, conforme o que se queira justificar. Dificilmente são questionadas por seus portadores, pois são aprendidas já desde o berço geração após geração. Fazem seus portadores se reconhecerem como um grupo, acreditando em conjunto que são por definição os melhores: os bons, os justos ou no mínimo os capazes - e que portanto têm o direito de decidir unilateralmente como as coisas ficarão para todos.

 

Não existe "conflito" em Gaza: existe uma antiga e insistente tentativa de dominação unilateral por parte de alguns, frente à qual a parte prejudicada tenta se defender como pode há muitos anos: com paus, pedras, com os pífios foguetinhos que conseguem. Com paus, pedras e pneus em chamas em Paraisópolis.

 

Não nego que existam oportunistas ávidos de poder pessoal dentro dos grupos oprimidos, muitas vezes tomando iniciativas inoportunas que terminam aumentando o prejuízo ao grupo - mas  essa é na verdade uma questão menor dentro do quadro maior de opressão continuada, sem esperança de remissão à vista.

 

Por exemplo: a tradicional comunidade de Paraisópolis sabe que há planos de retalhá-la com novas avenidas para servir aos carros dos novos moradores da região (ligação Panamby-Morumbi). Houve anúncio de início de obras já em 2005 - e o fato de que ainda não aconteceu não anula a ameaça. Sites ainda no ar revelam que já houve desapropriações para esse fim, e que antigos moradores saíram de lá com 5 mil reais na mão por terem entregue moradias pelas quais esperavam receber... 20 mil.

 

5 mil, ou mesmo 20 mil reais, como patrimônio acumulado de uma vida! Em quantos dias, às vezes minutos, o senhor gasta 5 mil reais, meu caro morador da Avenida Giovanni Gronchi ou do Panamby?

 

Paus, pedras e pneus queimados são sim uma explosão irracional. Mas qual das violências foi a inicial, meus caros: essa momentânea, ou aquela tão antiga que já se transformou em estrutura, que já vem de longe e não dá mostras de um dia querer largar?

 

Amo a paz, mas sei que só merece esse nome aquela que é fruto espontâneo da justiça.

 

Detesto violência, mas se não restar mais nada no mundo senão a violência com que os fortes impõem o sufoco que entendem por "ordem", e a violência com que os fracos tentam defender espaços ainda que mínimos de autonomia sobre suas próprias vidas - nisso eu não tenho dúvidas de com quem eu fico.

 

SALVE RAPAZIADA DE PARAISÓPOLIS, SALVE POVO PALESTINO!  Desejo ansiosamente ver vocês podendo fazer as coisas bonitas que sabem fazer, em vez de terem que tentar botar fogo no campo dos opressores. Se há algum poder cósmico capaz de influir, o que eu lhe peço ardentemente é que faça os opressores tropeçarem nos próprios pés e despencarem por si, antes de terem conseguido transformar todo o coração de vocês numa máquina de odiar.

 

Ou seja: repito, sim, a antiga oração de conclusão do principal rito cristão:  dona nobis pacem, "dá-nos paz". Dá-nos paz, sim!  - mas como?

 

Existe uma possibilidade e não mais que uma: extinguindo toda forma de opressão. Aí paz verdadeira se fará por si.

 .

06 fevereiro 2009

PARAISÓPOLIS e GAZA: explicando melhor

Esta postagem foi substituída pela seguinte,
"Paraisópolis, Gaza e a ideologia da dominação".

Mantive esta aqui só para não apagar os comentários.

Vai lá!

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04 fevereiro 2009

Fw: PARAISÓPOLIS - testemunho de uma professora poeta

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Não tenho como não repassar no ato, a todas as pessoas que têm a ver comigo, este depoimento-poema que acaba de ser vertido e divulgado entre amigos por Diane Padial, professora na comunidade-favela de Paraisópolis (logo atrás da primeira linha de prédios que a vista alcança da minha janela), invadida há dois dias pelas tropas de choque da PM.
 
 

Paraisópolis 04/02/2009

 

Os passarinhos eu não os tenho ouvido

Todos devem estar acuados em algum cantinho verde descoberto neste território

Hoje tem cavalaria, tem cachorro bravo

O som agora é papapapapapapapa

Há um pássaro de aço sobre a minha cabeça

Sobre a favela este som que faz a vigília todo o tempo

Nas entradas, tudo que é camuflado está explícito

Todos uniformizados

Lá o aço também se faz presente em formato de fuzil

Do céu o som

Dos lados, a imagem do uniforme camuflado, o controle

Aqui dentro, uma só pressão

No peito, na garganta, nos olhos

E no estômago

As pessoas passam olhando para o chão, suas caras estampam a tristeza imposta

A rua que é sempre cheia, com as pessoas de roupas coloridas, está quase vazia

Pouco movimento

Não agüento mais esta máquina na minha cabeça

papapapapapapapa

A cidade Paraíso no seu antagonismo máximo

Contradições, desproporções, uma cadeia ao ar livre,

Contradição...

Os contra e os a favor

Uma garota me diz ao telefone

"Desculpa, ontem eu não fui a aula por causa da guerra"

Escuto e não acredito, aquilo parece um raio dentro de mim.

A guerra

É isto, olha, escuta ........ papapapapapapapapa

Ele não para

Vigia este povo, esta gente com a pele escura

Esta gente quase nua, vigia, controla

A guerra,

É só isto

Aqui são 80 mil, e o espaço.... só  um pedacinho de chão

assim ....o Paraíso

Paraisópolis

Todas as pessoas vigiadas, todas as lotações verificadas, cada sacolinha que a humilde senhora carrega tem que ser mostrada, as casas invadidas para averiguações

Humilhação

Por cima, pelos lados, controle, opressão

Debaixo esta a pressão, vai explodir, vem explodindo, 

E assim vem aquela força e os meninos vão

Seus atos são vândalos, mas o seu inconsciente não

Traz dentro de si o arquétipo do cabresto, a humilhação, a miséria de seu povo,

Lamentavelmente o seu grito é assim... visceral, irracional, é na paulada, tijolada,

Foram vândalos, marginais,

Os meninos sem escolas, nem estas de mentirinha que a gente conhece eles têm, destituídos de muitos direitos

A pressão cresce, e é também um sentimento mesclado, camuflado, que a gente não explica bem

Pressão crescente, desta vez de baixo para cima

Explode em pauladas, tijoladas, incêndios, caos

Atos vândalos

 

A cidade Paraíso esta em explosão

Razão?????

É a guerra, tia

É a guerra....

papapapapapapapapapa


--
Diane de O.Padial

 
 

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PS de Ralf Rickli:  hora de acordar, amigos...  Gaza também é aqui.
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CONDIÇÃO PARA O RECONHECIMENTO DO DIVINO

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Se não formos capazes de encontrar o divino no outro humano, não seremos capazes de encontrá-lo em lugar nenhum, nem do cosmos nem de nós mesmos.
.
(Zé)
.
 

01 fevereiro 2009

boicote econômico a Israel até o fim do apartheid!

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Pode fazer pouca diferença no nosso cotidiano aqui no Brasil, mas é preciso dizer:
 
Boicote total a Israel até o fim do apartheid
e o seu acatamento a todas as resoluções da ONU!
 
 
 
 
"Boicote produtos israelenses", com código de barra iniciado em 729.
Endereço do GIF animado acima
 
 
Link para site em inglês da organização palestina Stop the Wall,
que luta para parar a construção do MURO DE 700 KM
entre os territórios ditos palestinos e os ditos israelenses,
com um monte de violações no caminhos:
 
 
Link para artigo do jornal ISRAELENSE Haaretz (em inglês) que denuncia a extensão da construção de assentamentos israelenses ilegais em território palestino, inclusive derrubando casas de família para isso
http://www.haaretz.com/hasen/spages/1060043.html 
 
 
SOU HUMANO: NADA QUE SEJA HUMANO EU CONSIDERO ALHEIO A MIM.
(Terentius)
.